Só porque sim - Depois da leitura
Denis Avey alistou-se no exército porque ansiava aventura. E conseguiu-a.
Teve muita sorte até ter sido feito prisioneiro e após um longo e duro percurso acabaria por se encontrar num campo de prisioneiros de guerra próximo de Auschwitz III - Monowitz.
Aí, conheceria a luta pela sobrevivência dos judeus que, tão perto, trabalhavam para resistir por mais um dia ao extermínio iminente. E, sentindo a necessidade de testemunhar, por duas vezes Avey ocupou o lugar de um outro homem e entrou a Auschwitz, movido pelo impulso de saber. De poder contar a história de tantas vidas, caso ele próprio sobrevivesse.
Denis não viveu em primeira mão a devastadora experiência dos prisioneiros de Auschwitz, mas conheceu-a de perto.
E isso bastou para deixar marcas que transparecem nesta história, mesmo que contada apenas depois de muitas décadas a viver com o trauma.
Distinguem-se três partes muito distintas neste livro e é, principalmente, o tom que as define. A experiência no exército reflecte, em certa medida, a satisfação de um homem que encontrou a aventura que buscava, mas também a luta contra dificuldades e uma mente alerta e responsável. Já do seu percurso como prisioneiro, que culmina com o tempo de trabalho forçado na IG Farben e com a visão próxima do que foi Auschwitz III, o que se evidencia é medo, seguido de um horror inevitável e de uma percepção do ínfimo valor de uma vida naquele lugar. Por último, surge o regresso à liberdade e uma recuperação que, ao longo de décadas a viver com o trauma, sem qualquer ajuda e guardando na memória uma história que ninguém queria ouvir, nunca seria total, mesmo ao descobrir a conclusão de histórias começadas com um gesto de ajuda em cenário de devastação.
Escrito de forma directa, dando voz à emoção do narrador que testemunha, mas tendo os duros factos como ponto fulcral, este é um livro que marca pela forma clara e dolorosa como reflecte o auge da crueldade humana. É também, por isso, um relato essencial para acontecimentos que nunca devem ser esquecidos.
Dos livros que fazem ficar com o nó na garganta e por vezes chorar.
E claro que fui ao youtube procurar quer a entrevista do escritor quer a do judeu Ernest-Lowenthal, com quem ele trocou de lugar no campo de concentração. (mais baba e ranho)
E este é o autor.
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